“Quando eu morrer, não chorem. Alegrem-se!”_ “Eteke N’ difa ” – é este o título – em umbundo (a mais falada língua nacional em Angola) – do poema de Fridolim Kamolakamwé.

Natural da província de Benguela, Kamolakamwé, iniciou a carreira profissional como escritor na Igreja Católica do Huambo, região onde o poeta cresceu. Acutilante nas palavras, incisivo nos gestos! Fridolim é um dos notáveis da actual poesia angolana.






Angola é – como aliás todo o continente africano, um país de tradições orais que o Homem africano foi passando de geração a geração. Hoje, entretanto, são múltiplos os canais para a transmissão de valores culturais, como seja a poesia.


Em Angola, todavia, o fraco índice de leitura preocupa cientistas sociais e escritores. Fridolim Kamolakamwé manifesta-se, entretanto, satisfeito com as vendas dos seus livros “Bíblia Sangrada” e “Satânicas metáforas”, bem como da sua colectânea em CD, na qual reúne dez obras, num total de 130 poemas.


Entre estas obras figuram "Erros de Deus", "Ópera dos Mendigos", "Satânicas Metáforas", "Via-sacra", "Preâmbulos de Jericó", "Chinguilamentos da Alma", "Orgasmos Espirituais", "Na cama com a pátria" e"Simone l’amore a la luna".



Nas obras de Fridolim estão contidos poemas que narram o sofrimento das pessoas, a solidão e, principalmente, a necessidade de humanização da sociedade e resgate dos valores cívicos e morais.



" Disseram à minha mãe", "Praça de decadência", "Amore Mio" e "Manchetes do Jornal", são poemas que notabilizaram Fridolim Kamolakamwé na arte de declamar.O livro intitulado Bíblia Sangrada foi lançado em 2001. A escolha do título deve-se ao facto da obra descrever o eclodir da guerra civil de 1992 e o sofrimento do povo angolano. Faz um constante apelo a reflexão sobre os problemas mais candentes da sociedade angolana. A obra tem o prefácio do sociólogo, Valeriano Traz Mbongo Mbongo.


Nos arquivos da Agencia Angolana de Noticias, uma entrevista de Valeriano caracteriza o conteúdo de Bíblia Sangrada. Diz o sociólogo e, citamos: a obra (…) é o resultado de autêntico “esforço” a que o autor se submeteu para extroverter o seu pensamento com relação à vida das pessoas amarfanhadas.”



Para os poetas de Angola da geração do Fridolim as desigualdades sociais são um dos temas recorrentes, temas esses – nas palavras de Fridolim – ignorados pelas gerações anteriores.


A produção poética em Angola sempre conheceu momentos altos e baixos. Actualmente Angola atravessa um momento, em que poucas obras são publicadas, embora o número de poetas tenha vindo a aumentar.




É este o cenário em que Fridolim Kamolakamwé produz poesia, numa Angola em que a maioria dos poetas não tem acesso a qualquer incentivo ou apoio institucional.



Os livros de Fridolim esgotam-se rapidamente. Quem os compra é o povo. Quanto à crítica literária, esta é praticamente inexistente: A sua obra não é elogiada, sendo mesmo ignorada pelos representantes do poder.




Fridolim vai mais longe ainda: O poeta denuncia episódios de assaltos e tentativas de atentados contra a sua integridade física, após a edição dos seus dois livros, em 2001 e 2002. Episódios que não mudaram o curso da sua poesia.



O poeta prefere esquecer o passado e recusa-se a acusar quem quer que seja. Mas, convém recordar que por se sentirem inseguros e verem ameaçada a sua integridade física muitos angolanos já abandonaram o país.



Muitos dos que ficaram consideram Angola ainda um país dividido. Fridolim – o poeta do povo – representa a linha de pensamento de muitos outros poetas da sua geração, que consideram abismal o fosso entre quem tem tudo e quem há muito perdeu a dignidade humana.






É certo: A poesia pode não ser capaz de mudar a vida dos angolanos, submergidos na pobreza. Mas para Fridolim e outros poetas da sua geração a poesia é, sim, uma questão de sobrevivência. Nas palavras de Fridolim, poesia é uma espécie de terapia. Para ele próprio – para o poeta. Para os leitores angolanos os poemas poderão constituir – ou não – um alimento intelectual ou uma forma de atenuar o sofrimento.


Vários direitos. A informação é um destes direitos. Nossa missão começa por, responsavelmente, trabalhar para que as populações se façam destinatárias dos interesses sociais e culturais. A diversidade cultural que, na diferença, nos faz diferente, mas com idênticas ambições em matéria de desenvolvimento. Por aqui damos boas-vindas!!!