O "Estádio" da Cultura


O deficiente parque cultural em Cabo Verde tem suscitado a critica severa de criadores e produtores, que reclamam não haver no País infra-estruturas suficientes. Há menos de dois meses da realização - em Cabo Verde - do Encontro Internacional de Turismo, o Presidente da UNOTUR, veio, esta “Quarta a Noite” (Programa da RCV), queixar-se da inexistência de infra-estruturas e politicas culturais que promovam o desenvolvimento integrado do turismo. Gualberto do Rosário lamenta que, por exemplo, as ilhas do Sal e da Boavista não tenham salas para a realização de ventos culturais.

Os destinos turísticos mais procurados não dispõem de espaços capazes para a promoção cultural, principalmente para grandes espectáculos. Tem sido, quase que exclusivamente, nos hotéis que o turista interage com cultura cabo-verdiana; das artes, nomeadamente da música.

Sendo que sem infra-estruturas culturais dignas fica difícil a elaboração e execução de um roteiro cultural, Gualberto do Rosário apontou no debate desta quarta-feira, 07, o que falta para que a Cultura seja factor de desenvolvimento turístico e o turismo contribua para o desenvolvimento cultural.

Mais: o fraco aproveitamento das potencialidades culturais e artísticas de Cabo Verde leva o presidente da Câmara de Turismo, UNOTUR, a sugerir as autoridades que, face a esta dura realidade, os pequenos empresários devem ser financiados para entrarem nesse mercado, ainda incipiente.

Outrossim, Gualberto do Rosário vinca que há lacunas que desmotivam qualquer projecto na área da promoção cultural. E a ausência de infra-estruturas é uma dessas lacunas.

O discurso do antigo primeiro-ministro, Gualberto do Rosário, é reforçado por João Branco. Este activista cultural mindelense tem batido para a edificação em São Vicente duma sala de espectáculos. Tal como Gualberto do Rosário, João Branco, importa que Boavista e Sal estejam despidas de infra-estruturas culturais.

O Parque Cultural em Cabo Verde sempre foi questionado pelos criadores e produtores. Sempre constou dos programas de Governo a construção de infra-estruturas para a Cultura. Nem sempre o Orçamento de Estado respondeu aos anseios das autoridades e da comunidade artística.

Em todo os municípios do País – em todos – é notória a insuficiência de espaços para práticas culturais. A realidade recomendou, desde há décadas, o levantamento de infra-estruturas culturais. Porém só na década de 90, Cabo Verde viria a acordar para a importância económica da Cultura. Foram mandados recuperar alguns edifícios, que agora funcionam como Centros Culturais.

O Auditório Nacional Jorge Barbosa, na Cidade da Praia, e a Biblioteca Nacional terão sido as únicas infra-estruturas projectadas e erguidas de raiz para a Cultura. Esta questão das infra-estruturas em Cabo Verde sempre marcou a agenda política e cultural. Trata-se dum assunto que acaba por questionar as politicas culturais dos sucessivos governos. O que se nota, neste momento, é a prioridade em se reabilitar e/ou recuperar o património construído.

Há projectos e anúncios de edificação de infra-estruturas de raiz, sem que esses mesmos projectos passem a prática. Enquanto se assiste, com pompa e circunstancia, a inauguração de estádios de futebol em todo o País – não há memória recente da inauguração de uma sala de espectáculos.






Salvagurada do Património


As actividades, no âmbito do Dia Nacional da Cultura, arrancam hoje, 07, e prolongam-se por todo este Outubro.Sob o signo da tradição, vários departamentos culturais programaram actividades específicas na maioria do território nacional.



É assim que uma delegação técnica do Instituto de Investigação e Património Culturais, IIPC, chegou na manhã desta quarta-feira, 7, a Vila da Ribeira Brava. Liderada pelo Presidente do Instituto, a delegação tem como objectivo acertar com as autoridades locais da Ribeira Brava o projecto de reabilitação do antigo Orfanato de Caleijão.

Na prática: o ex-orfanato em Caleijão é um monumento cujo projecto de reabilitação nunca arrancou . Agora é Carlos Carvalho, o presidente do Instituto de Investigação e Património Culturais a tomar para si a recuperação deste que é considerado um dos mais valiosos patrimónios edificados na Ribeira Brava:

"A missão tem, em São Nicolau, encontros com o edil Américo Nascimento e o vereador pela Cultura. Da Câmara de Ribeira Brava espera sair com os necessários acertos burocráticos para o início do projecto. As obras arrancam este mês. Em dinheiro estão garantidos 40 mil contos", Carlos Carvalho, presidente do IIPC. .

Incluído, ainda, no programa do IIPC para a marcação do Dia Nacional da Cultura lê-se que, finalmente, as obras de recuperação da Capitania Velha, em São Vicente, têm inicio, também, neste Outubro.

O projecto para a Réplica da Torre de Belém em Mindelo vinha dando práqui e acolá. Agora - e depois de posta de parte a ideia do Oceanário do Mindelo -, o novo projecto tem dias para sair do papel. Aliás, o orçamento de aproximadamente 30 mil contos, está financiado.

O programa do Instituto de Investigação e Património Culturais resume as áreas em que actua: investigação e património. Na Cidade Velha estão agendadas actividades envolvendo jovens investigadores, alunos do EBI e do Secundário, bem assim, inaugurações, como por exemplo, a iluminação pública deste Sitio Património Mundial pelo UNESCO, Fundo das Nações Unidas a Educação, Ciência e Cultura, deste 26 de Junho deste 2009.

O Governo pretende, com a comemoração do Dia Nacional da Cultura, realizar uma agenda cultural que sirva de modelo para os próximos meses. O ministro Manuel Veiga vai percorrer algumas infra-estruturas culturais, visitar artistas e traçar à Imprensa os projectos para, pelo menos, até Dezembro.

A programa nacional de celebração do 18 de Outubro está a ser ultimado. As directivas são que este mês seja de tradição cabo-verdiana.



PRODUÇÃO,  RCV


VEIGA REGRESSA COM ODJU D'AGU


O romance Odju d’Agu - da autoria de Manuel Veiga - é reeditado pela Biblioteca Nacional e relançado, este mês, na Cidade da Praia. O livro – escrito em crioulo cabo-verdiano – foi reescrito por Manuel Veiga, agora tendo como ferramenta o Alfabeto Cabo-verdiano.


22 anos após a primeira edição, o novo Odju d’Agu traz uma nova ortografia, por Manuel Veiga ter adoptado o Alfabeto Cabo-verdiano na escrita do romance. Veiga é um dos defensores do crioulo cabo-verdiano, assunto que, por um lado, lhe tem merecido críticas dalguns quadrantes , descontentes com a forma como o processo vem sendo conduzido.

O linguista, entretanto, tem procurado justificar a tese do Alfabeto Cabo-verdiano, ferramenta linguística que tem merecido, por outro lado, crítica positiva de cientistas sociais. Os testemunhos recolhidos, o ano passado na Praia, por altura da reunião sobre o então Alfabeto Unificado para a Escrita do Crioulo, não deixam dúvidas: o Alfabeto tem defensores.

Contudo – e muito importante, questões de fórum técnico e cientifico têm sido abordadas amiúde nas crónicas sobre a Oficialização do Alfabeto e Língua Cabo-verdianos. Todavia, é notória uma certa dose de regionalismo, quando não muito, de um certo bairrismo na abordagem ao assunto.

Certo, certo é que o livro de Manuel Veiga poderá ter resposta à algumas das questões em cima da mesa, porquanto sendo ele linguista, escritor e ministro da Cultura, poderá melhor provar como pretende levar os cépticos a compreenderem a sua argumentação.

Odju D’agu foi lançado pela primeira vez em 1987. Naltura não existia o ALUPEC. Agora com o Alfabeto Cabo-verdiano, aprovado e feito lei, Manuel Veiga dá ao público um romance formatado e cozinhado no fervor da oficialização da língua materna. O livro vai ser lançado este mês, no âmbito do programa comemorativo do Dia Nacional da Cultura (18 de Outubro), em tributo a Eugénio Tavares, um dos principais cultores da língua cabo-verdiana.

Afora o relançamento de Odju d’Agu, pouco ainda se sabe sobre a agenda das celebrações do Dia Nacional da Cultura. Este ano a efeméride é comemorada na Cidade de Assomada, embora haja previsão de actividades em quase todos os municípios. Sob o signo da tradição vai ser celebrada esta data mandada instituir pelo Parlamento.



... EMITIDO NA RCV


Cultura e Turismo


Jovens da Ribeira Grande de Santiago frequentam, na Cidade da Praia, até meados deste mês um curso de Guias Turísticos. Há aproximadamente quatro meses os 18 jovens oriundos de várias zonas da Ribeira Grande de Santiago começaram a formação em línguas estrangeiras e outras áreas de conhecimento, necessárias a um bom desempenho dum guia turístico.

Agora recebem aulas de Cultura, nas instalações do Instituto de Investigação e Património Culturais, IIIPC, que se associou ao Projecto do Instituto de Emprego e Formação Profissional, IEFP, e da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago.


Os módulos são dados pelos técnicos do IIPC. A museóloga Maria Eugenia Alves em Museologia, o arqueólogo Hamilton Jair Fernandes em Turismo Cultural, o historiador Ilídio Baleno dá as aulas de História, e a linguista Adelaide Monteiro está em tradições orais, enquanto que a parte de Politicas culturais é ministrada por Deborah Santos.

Depois de formados, os jovens – futuros guias turísticos - vão ao mercado procurar emprego. A intenção das autoridades da Cidade Velha e do Governo é que estes 18 jovens preencham a lacuna a esse nível na Ribeira Grande de Santiago.

FONTE: RCV - CULTURA



O livro cabo-verdiano vai estar presente na Feira do Livro de Brasília, a decorrer na Capital brasileira, na segunda quinzena deste mês – de 16 à 25. Para além da literatura cabo-verdiana, as autoridades culturais decidiram incluir, também, conferências sobre a Cultura Nacional.


Pela primeira vez os cabo-verdianos vêem-se representados na Feira do Livro de Brasília, certame anual que reúne obras de vários países, e tido pelos leitores e académicos como uma das mais bem organizadas e concorridas Feiras do Livro da América Latina.

Embora já vá na vigésima-oitava edição, só agora Cabo Verde é convidado a estar presente.

A frente desta missão cultural ao Brasil está o Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro. Joaquim Morais – o presidente desta instituição – visitou a Feira de Brasília no ano passado.

Dessa experiência se deve o convite a Cabo Verde. Assim, de 16 a 25 deste Outubro, em Brasília, o País - vencedor do Prémio Camões deste ano - diz-se presente.

Do acervo a embarcar para Brasília contam-se livros de vários autores, obras publicadas em Cabo Verde ou de escritores nacionais editados no estrangeiro.

O Presidente do Instituto da Biblioteca Nacional, Joaquim Morais, aposta na internacionalização do livro cabo-verdiano, missão facilitada pelos prémios com que autores cabo-verdianos têm sido distinguidos.

Afora a participação em certames culturais no estrangeiro, a pretendida internacionalização da literatura cabo-verdiana assenta, ainda, na tradução de obras nacionais para línguas estrangeiras. Neste sentido há experiências de sucesso, principalmente de iniciativas privadas.

Na Capital brasileira, a delegação cabo-verdiana espera estabelecer compromissos com livreiros e distribuidores, que podem ampliar oportunidades de edição, e fomentar as trocas culturais:

O stand de Cabo Verde, além de promover a exposição de obras literárias nacionais dos mais variados segmentos, vai realizar outras actividades culturais, nomeadamente palestras com os escritores Filinto Elísio e Dany Spínola, e um concerto com Tó Alves. A apresentação dos novos livros de Spínola e Filinto faz, igualmente, parte da agenda da delegação cabo-verdiana.

De 16 à 25 deste mês, a Feira do Livro de Brasília homenageia os 50 anos do Estado, na condição de Capital Federal.

Ao Brasil desembarca mais uma comitiva cultural cabo-verdiano, um acto que vem multiplicar as iniciativas no quadro do intercâmbio cultural entre os Praia e Brasília. Recordo que o embaixador de Cabo Verde no Brasil, Daniel Pereira, tem lançado uma ofensiva cultural em vários Estados Brasileiros e conta-se, ainda, a participação de criadores e produtores nacionais em vários certames desde o Cinema, as Artes Plásticas, o Teatro, a Literatura passando por Conferências.


Vasco Martins - “Manuel de Novas era suficientemente suficiente”



Pela ciência do musicólogo Vasco Martins, percorremos, na RCV, a obra do malogrado trovador Manuel de Novas (Santo Antão, 1938 – Mindelo 2009). Vasco Martins privou várias vezes com o autor de “Biografia Dum Crioulo”, tendo-o entrevistado para o seu livro “A Morna”, publicado na década de 1990. Eram amigos e debatiam algumas vezes sobre a música cabo-verdiana. Uma semana depois da morte de Manuel de Novas, a Rádio de Cabo Verde prestou-lhe homenagem tendo sido Vasco Martins um dos convidados. A partir da sua residência em São Vicente, o músico contou, em entrevista, como conheceu o trovador, cuja obra considera ser um percurso pela história recente de Cabo Verde.


Por Elisângelo Ramos*: - Vasco Martins o que fica de Manuel de Novas?


Vasco Martins: - Fica a memória que todos conhecemos. Depois do seu desaparecimento deste lado do Universo, fica, para já esta memória que conhecemos, a dum homem com um coração muito grande. Fica a memória de um homem na verdadeira acepção da palavra. Fica, ainda, a belíssima música que escreveu.

Elisângelo Ramos: - Como o conheceu?

Lembro-me de ter vindo de férias a Cabo Verde. Apenas conhecia a música do Manel. Lembro-me de o ter encontrado na Praça Estrela, em São Vicente, durante um dos bailes que se realizavam no então recinto. Abraçou-me e disse-me que estava atento a minha música. Isso foi em 1976. A primeira ideia que me fica do Manel é que ele era um homem curioso e bastante consciente do valor que tinha. N’altura da recolha para o meu livro, o Manel me ajudou não só em relação à música cabo-verdiana mas e também dos contactos. A nossa amizade começou assim.

Elisângelo Ramos: - O que mais o atraía nele?

Vasco Martins: - Lembro-me de - na década de 80 (1988/89) - ter assistido a um ensaio do Bana em que Manuel de Novas explicava-lhe algo sobre a música que ia ser interpretada. Fiquei admirado pela forma como o compositor transmitia, via oral, ao intérprete Bana a música que ia ser cantada, não tendo ele Manuel de Novas conhecimentos de pauta e estas coisas.

Elisângelo Ramos: - Diz ser Manel um músico singular. Porquê?

Vasco Martins: - O Manuel é uma espécie de continuador da escola de B.Leza. Aliás ele conheceu B.Leza. Sendo um continuador da escola de B.Leza – (escola do meio-tom) – há o caminho do B.Leza em sua obra. As suas influências eram, diga-se, não só de Cabo Verde mas também das várias paragens por onde passou. O Manuel sendo marinheiro pode-se ver que no jogo de acordes era um homem viajado. A sua morna é singular. É com a tradição oral que ele consegue uma morna singular, porque não dominava a técnica científica da música. A morna de Manel é pois singular, na letra e nos acordes. Ele era suficientemente suficiente.

*Jornalista